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O Desmonte da Ferrovia

A falta de uniformidade existente no material rodante e nas bitolas das diferentes companhias de estradas de ferro e a existência de ramais exclusivos para o escoamento de produção cafeeira, que seriam subutilizados, tornaram-se argumentos correntes para justificar a inviabilidade econômica das ferrovias. De símbolo da modernidade, a ferrovia passou a ser apresentada como dispendiosa e antiquada.
Esse discurso estava atrelado ao processo acelerado de industrialização brasileira. Considerando o volume de investimentos estrangeiros aplicados, principalmente, na indústria de máquinas e automóveis, e a pressão do novo e mais agressivo investidor, os Estados Unidos, o setor ferroviário, que já estava em retrocesso, passou a sofrer um desmonte sistemático.
A política corrente de apresentar a ferrovia como ultrapassada e antieconômica induziu ao baixo investimento no setor e, consequentemente, tornou as estradas de ferro e seus serviços cada vez mais deficitários. Nesta dinâmica, o transporte rodoviário, largamente incentivado e financiado, ganhou espaço e usuários. A ferrovia tornou-se efetivamente dispensável.

Nos anos 1960 e 1970 o desmonte se acelerou com a extinção de diversos ramais e o baixo investimento nos troncos e linhas remanescentes. Essas décadas também ficaram marcadas pela diminuição e desarticulação do movimento ferroviário. O desaparecimento de linhas e ramais – e, mais tarde, a estatização – redundou na diminuição do número de ferroviários, demitidos ou deslocados para funções diversas, e os movimentos organizados, como o sindicato ferroviário, foram significativamente atingidos pelo regime ditatorial instalado após o golpe militar de 1964.

 

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